Haverá certamente muita gente, natural e/ou residente na Foz do Douro, que, tal como eu, se lembra da existência do Refúgio da Paralisia Infantil, importante instituição que existiu na Rua Bela, nesta freguesia, fundada pelo médico neurologista Henrique Gomes de Araújo, natural de Baião onde nasceu em 1881 e formado na antiga Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Mas vamos a um pouco da história do Refúgio, como era assim tratado, e conhecido, pelas gentes da Foz do Douro.
O flagelo da paralisia infantil, como escreveu Gomes de Araújo, era muito grande por todo o Universo. Muitos dos casos eram por sequelas de meningite. Com a vocação revelada nos tempos de estudante de medicina para a neurologia e para as doenças nervosas Gomes de Araújo, concluídos os estudos e estágios na especialidade, começou a sentir a necessidade em criar um abrigo (refúgio), uma recolha para os infortunados que, ou mendigavam na via pública, ou padeciam de frio e fome em miseráveis antros. Estas situações tocavam fortemente aquele ilustre médico. Começou por proferir várias conferências com a presença da comunicação social para que esta fizesse eco do seu objectivo e da necessidade em erguer o refugio. E foi mais longe. Bateu à porta de uma senhora de nacionalidade francesa, que tinha ficado viúva do Conde Vizela, residente no Porto, que não só o recebeu muito bem como se interessou desde logo pelo projecto que lhe foi apresentado e pelas necessidades de que o médico carecia para lhe dar corpo, nomeadamente um local. Esta prometeu-lhe, nesse encontro, disponibilizar em breves semanas, uma grande casa na Foz do Douro. Casa essa onde o médico deveria marcar os meios e condições para o fim em vista, cujos custos da obra - esta a cargo do Arquitecto Marques da Silva - ficariam também a expensas da benemérita do bem imóvel. Seguidamente, e porque era necessário pessoal para prestar apoio, Gomes de Araújo deslocou-se a Tui, em Espanha, à sede das freiras Franciscanas, onde solicitou uma madre superiora e quatro irmãs, pedido que lhe concederam. E assim, com casa já devidamente preparada, apoios financeiros que entretanto lhe foram concedidos e o pessoal de apoio já disponível abriu a 23 de Maio de 1926, com mais seis enfermeiras no internato e cerca de doze nos serviços de externato.
Porém as instalações, passados alguns anos, foram-se tornando pequenas e insuficientes para as valências necessárias. Vivia junto ao edifício do Refúgio um juiz desembargador que se dispôs a vender a sua propriedade para que Gomes de Araújo pudesse ampliar o Refúgio. Depois de concretizada a compra e da realização das obras necessárias, foi possível, em 1940 criar a cirurgia de ortopedia em instalação própria onde colaboraram médicos do Hospital de Matosinhos e do de Santo António, do Porto. E também, como ortopedista privativo Álvaro Moitas. A Henrique Gomes de Araújo se deve a obtenção do soro antipoliomiolítico, único, que a partir de 1940 passou a ser aplicado em Portugal.
O Refúgio da Paralisia Infantil da Foz do Douro, após a ampliação era uma instituição de valiosa trivalência, como referia Gomes de Araújo. Tinha o Albergue, onde recolhia e alojava as crianças poliparalíticas. O Hospital, onde eram curados e tratados os doentes. E a Escola onde, como salientou o médico fundador, por bondade e gentileza dos directores do então afamado Colégio Brotero, Professor Alberto Sousa Pinto e Padre Joaquim Lopes, disponibilizaram serviços pedagógicos aos doentes bem como facultaram a abertura de um muro comum para acesso directo ao Colégio dado que este e o Refúgio viviam paredes meias. Mas o Refúgio não teve só crianças internadas durante a sua existência. Um caso muito falado, que ali esteve um mês internada, foi o de Alexandrina Maria da Costa, mais conhecida como Alexandrina de Balazar (Póvoa de Varzim) nascida em 1904 e falecida em 1955. Esta veio a ficar paralítica, ao que consta, consequência de uma queda, ao saltar de uma janela do primeiro andar da casa onde vivia, para fugir de uns homens que a queriam atacar. Aconteceu quando tinha catorze anos, ficando gravemente ferida. Mais tarde, aos vinte e uma anos acabou por paralisar. Foi Gomes de Araújo que a trouxe para o Refúgio, onde esteve internada quarenta dias, entre 10/06 e 20/07 de 1943, mas não conseguiu, ao que parece, proporcionar-lhe melhoras. Não quero tecer grandes comentários quanto ao aspecto religioso de Alexandrina mas, a título de curiosidade, refiro apenas que foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 2004. O seus restos mortais estão em túmulo próprio, em Balazar, onde é venerada por cerca de trezentos mil crentes que ali se deslocam anualmente.
O Refúgio da Paralisia Infantil da Foz do Douro, após a ampliação era uma instituição de valiosa trivalência, como referia Gomes de Araújo. Tinha o Albergue, onde recolhia e alojava as crianças poliparalíticas. O Hospital, onde eram curados e tratados os doentes. E a Escola onde, como salientou o médico fundador, por bondade e gentileza dos directores do então afamado Colégio Brotero, Professor Alberto Sousa Pinto e Padre Joaquim Lopes, disponibilizaram serviços pedagógicos aos doentes bem como facultaram a abertura de um muro comum para acesso directo ao Colégio dado que este e o Refúgio viviam paredes meias. Mas o Refúgio não teve só crianças internadas durante a sua existência. Um caso muito falado, que ali esteve um mês internada, foi o de Alexandrina Maria da Costa, mais conhecida como Alexandrina de Balazar (Póvoa de Varzim) nascida em 1904 e falecida em 1955. Esta veio a ficar paralítica, ao que consta, consequência de uma queda, ao saltar de uma janela do primeiro andar da casa onde vivia, para fugir de uns homens que a queriam atacar. Aconteceu quando tinha catorze anos, ficando gravemente ferida. Mais tarde, aos vinte e uma anos acabou por paralisar. Foi Gomes de Araújo que a trouxe para o Refúgio, onde esteve internada quarenta dias, entre 10/06 e 20/07 de 1943, mas não conseguiu, ao que parece, proporcionar-lhe melhoras. Não quero tecer grandes comentários quanto ao aspecto religioso de Alexandrina mas, a título de curiosidade, refiro apenas que foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 2004. O seus restos mortais estão em túmulo próprio, em Balazar, onde é venerada por cerca de trezentos mil crentes que ali se deslocam anualmente.
Foram muitas as figuras públicas e entidades que apoiaram o Refúgio da Paralisia Infantil. através do seu fundador, e director, Henrique Gomes de Araújo. A todos (nome a nome) este agradeceu num dos seus livros sob o título “No cumprimento de um dever”, editado em Novembro de 1955 e do qual retirei algumas das notas para este escrito.
Resta referir que o Refúgio da Paralisia Infantil da Foz do Douro funcionou até 1973, embora o seu fundador tenha falecido a 18 de Março de 1964.
Notas:
Na primeira imagem podemos ver o edifício da Rua Bela, n.º 24, onde funcionou o Refúgio da Paralisia Infantil da Foz do Douro. A foto foi publicada na capa de um dos livros da autoria de Henrique Gomes de Araújo. Este edifício, como refiro no texto, foi resultado da fusão de dois prédios. A casa onde funcionou o Colégio Brotero, já há muito demolida, ficava nas traseiras e paredes meias com este.
Na legenda da foto pode ler-se: Fachada do Refúgio da Paralisia Infantil, na Foz do Douro. (Fot. do Bazar Eléctrico Fotográfico do Porto)
Na segunda imagem, mais ou menos actual, o prédio à direita, pintado de amarelo, é onde outrora existiu o Refúgio da Paralisia Infantil da Foz do Douro, ainda que o número 24 já não exista. O edifício foi objecto de profundas obras, em meados dos anos setenta do séc. XX, e ali funcionaram algumas valências do Centro Social da Foz, inclusivamente o centro de dia. (Imagem obtida através do Google Earth)
Agostinho Barbosa Pereira, em 27/08/2018
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