sábado, 12 de outubro de 2019

Um pouco de uma narrativa sobre Nevogilde, publicada em 1862, com complemento em outros dados .


Num artigo publicado no semanário ilustrado, "Archivo Pittoresco", Volume V, em 1862, cujos editores e proprietários eram Castro e Irmão & C.ª com sede na Rua da Boa-Vista, ao Palácio do Conde de Sampaio, em Lisboa, o articulista inicia o seu trabalho referindo que o lugar de Nevogilde era formoso de sítio, pitoresco dos arredores e sadio de ares.

Mas antes de continuar as referências a este escrito vou, servindo-me de outras publicações, dar uma ideia como terá surgido Nevogilde.

Fez parte do Julgado de Bouças e é referido como Lovygildus, nome de origem germânica, nas inquirições de 1258 criadas a mando de D. Afonso III. Nestas inquirições, a vila de Nevogilde é citada como tendo à época, dezassete casais, com cerca de seis desabitados.

Quando o Julgado de Bouças foi extinto, devido à criação do concelho com o mesmo nome, em 1835, Nevogilde passou a pertencer aquele concelho em conjunto com as freguesias que mais tarde constituíram, e constituem, o concelho de Matosinhos.

Um relato datado de 1839 dava como presentes em Nevogilde 30 fogos e 137 almas.


Em Novembro de 1895, depois da construção da estrada da Circunvalação, a freguesia de Nevogilde passou a fazer parte do concelho do Porto, em conjunto com as restantes quinze freguesias, que o constituem.


Ainda segundo a narrativa com que iniciei este texto, aquele local, situado no Litoral do Minho, entre S. João da Foz do Douro e a povoação de Matosinhos, era pobre de importância mas levava a palma às povoações suas vizinhas.

Ali se pode ler que a torre da sua Igreja Paroquial, bem como as demais casas do "lugarejo" eram vistas de longe entre as verdes copas do arvoredo, os prados de pura esmeralda e fechados na banda Leste por pinheirais viçosos na coroa das suas colinas.

As cordilheiras de vegetação florida estendiam-se para Norte e Sul, na direcção de Leça da Palmeira e de S. João da Foz.

A Oeste desdobrava-se a planície do mar que não cessava de balbuciar queixas com gemidos sobre os seus amplos areais.

Escreveu o autor o que ali se via, nas tardes de Junho a Agosto: Manadas de bois alimentando-se nos lameiros, os guardadores dormindo à sombra das árvores, o lavrador ocupado em algum trabalho rústico.

Mais escreveu que se olhasse para o mar, enxergava a pequena vela branca que levava o pescador rumo à Póvoa, ou a Leça da Palmeira, e na linha do horizonte via algum solitário navio velejando para S. João da Foz.

Dos relatos citados naquele escrito sobre residentes em Nevogilde, destaco duas referências. A duas mulheres que o articulista explica serem mãe e filha, ambas família de um antigo capitão de navios, cujo alcunha era o "catraieiro", que gostava de dormir o seu último sono debaixo de uma lage da Igreja Paroquial.

Igreja de S. Miguel de Nevogilde

O Domingos, filho de uma viúva que durante o período de invasão de Napoleão Bonaparte, conhecido como "o tempo dos Franceses", se refugiara com o filho, ainda pequeno, naquela aldeia fugindo assim à morte que o marido, cabo do exército, recebeu dos Franceses.


Há ainda uma outra referência que aqui quero deixar por me parecer interessante.


No relatório datado de 1758, o Abade Manoel da Silva Pereira, dando respostas aos inquéritos feitos aos párocos e que constituem ainda o arquivo “Memórias Paroquiais”, escreveu, quanto à pergunta se esta localidade tinha porto de mar, informou que não tinha. Que havia um sítio na parte Norte chamado Selgueiras, que em meia maré ali surgiam barcos pequenos, que devido à braveza do mar não podiam entrar nos seus portos. E outro sítio na parte Sul, chamado Carreiro, onde em toda a maré entravam e aportavam os barcos.

Nota do autor do blogue:

Apesar de ter nascido na Foz do Douro, conheço bem Nevogilde, freguesia à qual estou bastante ligado por ali ter vivido, no Largo de Nevogilde, de 1976 a 1987.

Agostinho Barbosa Pereira, em 12 de Outubro de 2019.   


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