Num artigo publicado no semanário
ilustrado, "Archivo Pittoresco", Volume V, em 1862, cujos
editores e proprietários eram Castro e Irmão & C.ª com sede na
Rua da Boa-Vista, ao Palácio do Conde de Sampaio, em Lisboa, o
articulista inicia o seu trabalho referindo que o lugar de Nevogilde
era formoso de sítio, pitoresco dos arredores e sadio de ares.
Mas antes de continuar as referências
a este escrito vou, servindo-me de outras publicações, dar uma
ideia como terá surgido Nevogilde.
Fez parte do Julgado de Bouças e é
referido como Lovygildus, nome de origem germânica, nas inquirições
de 1258 criadas a mando de D. Afonso III. Nestas inquirições, a
vila de Nevogilde é citada como tendo à época, dezassete casais,
com cerca de seis desabitados.
Quando o Julgado de Bouças foi
extinto, devido à criação do concelho com o mesmo nome, em 1835,
Nevogilde passou a pertencer aquele concelho em conjunto com as
freguesias que mais tarde constituíram, e constituem, o concelho de
Matosinhos.
Um relato datado de 1839 dava como
presentes em Nevogilde 30 fogos e 137 almas.
Em Novembro de 1895, depois da
construção da estrada da Circunvalação, a freguesia de Nevogilde
passou a fazer parte do concelho do Porto, em conjunto com as
restantes quinze freguesias, que o constituem.
Ainda segundo a narrativa com que
iniciei este texto, aquele local, situado no Litoral do Minho, entre
S. João da Foz do Douro e a povoação de Matosinhos, era pobre de
importância mas levava a palma às povoações suas vizinhas.
As cordilheiras de vegetação florida
estendiam-se para Norte e Sul, na direcção de Leça da Palmeira e de
S. João da Foz.
A Oeste desdobrava-se a planície do
mar que não cessava de balbuciar queixas com gemidos sobre os seus
amplos areais.
Escreveu o autor o que ali se via, nas
tardes de Junho a Agosto: Manadas de bois alimentando-se nos
lameiros, os guardadores dormindo à sombra das árvores, o lavrador
ocupado em algum trabalho rústico.
Mais escreveu que se olhasse para o mar,
enxergava a pequena vela branca que levava o pescador rumo à Póvoa,
ou a Leça da Palmeira, e na linha do horizonte via algum solitário
navio velejando para S. João da Foz.
Dos relatos citados naquele escrito sobre residentes em Nevogilde, destaco duas referências. A duas mulheres que o articulista explica serem mãe e filha, ambas família de um antigo capitão de navios, cujo alcunha era o "catraieiro", que gostava de dormir o seu último sono debaixo de uma lage da Igreja Paroquial.
O Domingos, filho de uma viúva que
durante o período de invasão de Napoleão Bonaparte, conhecido como
"o tempo dos Franceses", se refugiara com o filho, ainda
pequeno, naquela aldeia fugindo assim à morte que o marido, cabo do
exército, recebeu dos Franceses.
Há ainda uma outra referência que
aqui quero deixar por me parecer interessante.
No relatório datado de 1758, o Abade
Manoel da Silva Pereira, dando respostas aos inquéritos feitos aos
párocos e que constituem ainda o arquivo “Memórias Paroquiais”,
escreveu, quanto à pergunta se esta localidade tinha porto de mar, informou que não tinha. Que havia um sítio na parte Norte chamado
Selgueiras, que em meia maré ali surgiam barcos pequenos, que devido
à braveza do mar não podiam entrar nos seus portos. E outro sítio
na parte Sul, chamado Carreiro, onde em toda a maré entravam e
aportavam os barcos.
Nota do autor do blogue:
Apesar de ter nascido na Foz do Douro,
conheço bem Nevogilde, freguesia à qual estou bastante ligado por
ali ter vivido, no Largo de Nevogilde, de 1976 a 1987.
Agostinho Barbosa Pereira, em 12 de
Outubro de 2019.
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